Esses dias tenho pensado na minha
vida. Na verdade, nos momentos vividos, como uma discografia. Uma discografia
sensacional. Uma coleção de discos variados, com uma mistura - acho que natural
de toda vida - de alegrias, decepções, amores, raiva, derrotas e conquistas.
Todos nós temos a capacidade
de produzir os mais variados tipos de discos, onde estarão gravados momentos
bons e ruins. Também está em nós a escolha de qual deles deixar tocar, qual a
faixa apropriada pra viver cada momento; onde buscar motivação, reflexão; onde
buscar “aquela história que me fez chegar até aqui”, ou resgatar os piores
momentos de dor e desilusão pra saber se aprendeu algo diferente pra viver. Ou
então reviver o momento de glória de ter conquistado uma vaga em uma
universidade sensacional, ou de ter finalizado o seu trabalho de conclusão de
curso, ou de ter perdido um ente querido, ou de ter perdido pra sempre a
habilidade de jogar futebol e não poder mais ouvir seus amigos dizendo: “ele só
faz aquilo, mas é f@#$ marcar ele!”, ou...
Quantos discos ou faixas
sensacionais que temos para ouvir? O que seria um disco sensacional? Como posso
cuidar dele sem arranhá-lo? O que fazer com os discos que arranharam?
Comecei a refletir sobre
essa ideia de “discografia da vida” durante uma festa do casamento de um amigo,
o Nino, em outubro deste ano.
O Nino foi o primeiro ser
fora do normal que eu conheci ainda antes de começar o meu curso de graduação
em Ilha Solteira. No dia da confirmação de matrícula tive a oportunidade
forçada de conhecê-lo em um “restaurantezinho” da pacata Ilha Solteira. “Oportunidade
forçada” porque não vejo como não trocar ideia com um ser que é muito
semelhante ao burro falante do Shrek: não dá pra não conversar. Decidimos morar
juntos a partir dali.
Montamos a República
Atmaskavas, que depois, no começo das aulas, já contava com mais quatro
integrantes: João, Calipo, Christian e Danilo. Éramos seis! E naquela época
(2001) dividíamos um aluguel de R$ 340,00 em uma casa bem mais ou menos, com
uns amigos ratos, que “trabalhavam” como seguranças da “Rep” (1).
Consegui seguir meu curso em
Ilha Solteira por um ano, até que meu pai teve um problema de saúde, e eu não
conseguia mais tocar minha vidinha distante da minha casa, dos meus pais. Havia
a oportunidade de estudar mais próximo de casa, em Guaratinguetá. Consegui,
depois de mais seis meses, minha transferência de curso e, com isso, um maior
estado de paz pra alcançar a conclusão da minha graduação. Mas alguma coisa
ficou em Ilha Solteira. Um disco sensacional foi gravado lá. Um amor por meus
amigos.
Após ter ficado um ano e
meio em Ilha Solteira, eu trouxe de lá um disco com faixas maravilhosas de
momentos de felicidades, de angústias, de conquistas, de superação. Aprendi nos
primeiros anos de faculdade a ser parceiro, porque eu tinha parceiros. Aprendi
a respeitar os espaços do outro. Aprendi que amizade nos mantém imune a qualquer
tipo de solidão. Aprendi que a distância não bloqueia amor algum. Aprendi o
como é bom sentir saudade e ter tempo de acabar com ela, ainda que ela dure uma
semana, um mês, três meses. Aprendi que sempre serei maior do que penso ser.
Aprendi que a melhor forma de me sentir melhor é tentar ser melhor, ainda que
eu não consiga ser mer@$ nenhuma. Aprendi o quanto é bom se dedicar a um
desafio, a um “plantar mais difícil”, pra depois usufruir dele. Aprendi que
posso respeitar o nome da minha família onde estiver, e que tenho que dar o
máximo de mim para tentar ser lembrado por onde eu passar, nem que seja por um
simples sorriso. Aprendi o quanto é sensacional valorizar as amizades
verdadeiras e viver delas.
A ida ao casamento foi como
se eu pudesse pegar um dos discos mais sensacionais da minha vida, e colocá-lo
pra tocar. Sim, um disquinho em vinil, em um toca discos com uma agulhinha bem
limpa. Em casa ficaram dois dos meus melhores amigos - meu pai e minha mãe -
cuidando das nossas princesas (2).
Na cerimônia e na festa de
um casamento sensacional, estávamos reunidos de novo. Estava lá, mais uma parte
das pessoas que me fizeram ser melhor. Em nossa mesa, estava o meu amigo e fiel
torcedor - meu irmão - que me mandava todo mês os cem ou duzentos pila (3) que
faziam minha conta corrente ter algum sinal de “+” ou “C”; estavam os caras que
compartilharam comigo muitos momentos de alegria, que foram os mesmos que se
despediram de mim na rodoviária cantando “Eu só quero amar”, do Tim Maia, me fazendo chorar pra cac&%$;
estavam minha namorada e minha cunhada comendo doce pra caramba; estava a
memória e a saudade do Calipo que foi muito mais cedo pro céu; estava a vontade
de ter o Hondinha (4) conosco, que foi pro casamento do Jarrão (5) lá na Paraíba.
Enfim, estava presente um sorriso coletivo de “cara%$# como é sensacional
viver!”
Eu acho que nesses 30 anos
de vida, eu aprendi a saber, a reconhecer nitidamente minha base. Esses
momentos me levam a crer nisso. Mais do que saber onde estou, eu sei porquê estou.
Alguém me fez chegar até aqui. Com certeza eu não estava e nem estou sozinho. Sou
uma formação de pessoas, colocadas em minha vida, por uma Pessoa que me ama
muito, pra me amarem, pra me ajudarem, pra torcerem por mim, pra chorarem junto
também.
Sou só mais uma pessoa que
recebeu do criador o desafio e a dádiva do movimento da vida, e com ela a
possibilidade de vivenciar momentos horríveis e/ou sensacionais. Posso escolher
o que viver, na maioria das vezes.
Sou só mais uma pessoa que não
sabe explicar muito bem a sua origem, mas que sabe o que fazer para o movimento da vida
nunca cessar, até que Deus determine essa hora.
Enquanto viver, vou tentar
sempre sacar da minha coleção algum disquinho sensacional e, simplesmente, começar
a tocar!
Sempre!
(1) Abreviação de república - "casa" de estudantes.
(2) Manoela e Isabela, minhas duas sobrinhas sensacionais.
(3) Pila é a outra denominação dada a qualquer tipo de moeda. Seja real, dolar, euro etc.
(4) Hondinha, é o apelido do sr. Bruno Takeo, o japonês mais engraçado que conheço. Ele pertencia a outra Rep. mas não saia da Atmaskavas. Uma das pessoas mais sorridentes que conheço.
(5) Jarrão, é o cara mais desastrado que existe. Pra se ter uma noção, o "buro" marcou a data do casamento dele, no mesmo dia que o Nino. Só que o "casório" foi lá na Paraíba. Facilitou a escolha da galera, em qual dos dois casamentos comparecer.
(1) Abreviação de república - "casa" de estudantes.
(2) Manoela e Isabela, minhas duas sobrinhas sensacionais.
(3) Pila é a outra denominação dada a qualquer tipo de moeda. Seja real, dolar, euro etc.
(4) Hondinha, é o apelido do sr. Bruno Takeo, o japonês mais engraçado que conheço. Ele pertencia a outra Rep. mas não saia da Atmaskavas. Uma das pessoas mais sorridentes que conheço.
(5) Jarrão, é o cara mais desastrado que existe. Pra se ter uma noção, o "buro" marcou a data do casamento dele, no mesmo dia que o Nino. Só que o "casório" foi lá na Paraíba. Facilitou a escolha da galera, em qual dos dois casamentos comparecer.